quarta-feira, 30 de março de 2011

JUVENTUDE: TEMPO E PRESENÇA


Leonardo Venicius Parreira Proto
Bacharel e licenciado em História pela PUC-GO, especialista em adolescência e juventude no mundo contemporâneo pela Faculdade Jesuíta (FAJE-MG), mestrando em História pela UFG e bolsista da CAPES. Coordena o curso de História da UEG/UnU-Iporá e minis

"A juventude é uma banda numa propaganda de refrigerante”
(Engenheiros do Hawaii)
Por onde começar? Pergunta que sinaliza para uma das questões fundamentais da juventude nesse tempo moderno: suas decisões ou filosoficamente entendidas como opções. As escolhas fazem parte de nossa condição existencial e na formação da juventude essa é uma das provocações: cheguei até aqui nesse tempo presente e como viverei o que está por vir? São mais perguntas!
Seria aqui importante refletirmos acerca dos projetos de vida desse grupo social. Os horizontes e a expectativas podem fazer parte de suas vivências e experiências nos diversos campos de sua realidade, desde o psico-afetivo até as suas crenças em fenômenos religiosos. Então, como integrar todas as dimensões desses/as jovens às suas capacidades de elaboração e sistematização de seus projetos de vida?
Essa é outra indagação que merece como resposta à derrota de um mundo adultocêntrico, baseado nos referenciais daquele velho conselho que recebemos desde a infância: "quando você crescer... quando se tornar adulto... quando se tornar homem de verdade...”.
O cinema está "repleto” de produções que nos serviriam nesse tempo presente para ilustrar essa posição, basta vermos p. ex. o filme Coraline e o Mundo Secreto, uma animação sobre uma garotinha tratada como pequena adulta pelos pais, a ponto de acreditar num outro mundo no qual os pais a tratem como criança, explicitando dessa maneira a rejeição psíquica em participar de um tempo adulto sem sê-lo.
Outro filme recente, em minha opinião, na contramão do acima citado é a nova versão de Alice no País das Maravilhas (dir. de Tim Burton). A protagonista já na sua tenra juventude, numa sociedade amplamente aristocratizada, prometida em casamento e se preparando para tal, vive uma experiência e "retorna” à sua infância em um mundo maravilhoso. Essa experiência é que a faz retornar ao presente e optar por uma vida sem pretendente e casamento.
Uma das abordagens no cinema atual, a meu ver, representativa do fundamento da escolha, da liberdade, na mesma acepção sartreana da liberdade para a escolha, dentro de determinadas possibilidades. Essa é uma orientação de sentido importante na formação da juventude, de educar-se para o sentido e as possibilidades dentro de seus limites e configurações sociais, de sua realidade concreta e de classe, pois nossos gostos e interesses são aspectos de nossas experiências no conjunto das relações sociais.
O universo adulto pode sim contribuir com a formação de sujeitos jovens emancipados e capazes de pensar suas escolhas e horizontes, inclusive, colaborando com uma formação que contemple perceber a juventude como indivíduos-sociais, e não meramente como indivíduos per si, alimentados pelo desejo de "vencer na vida” e cair no círculo de ferro da alienação e de suas facetas mais modernas: o consumismo e a sociedade do espetáculo, em suas várias nuances como o culto ao corpo sarado, as cirurgias para redução disso ou daquilo, ao emburrecimento de programas como BBBs e conteúdos análogos.
Vale destacar! Um dos caminhos para a negação desses atuais valores "descartáveis” é a opção por projetar e pensar novos horizontes no âmbito do indivíduo-social, até mesmo compreendendo e explicando a juventude como uma parte da totalidade social e não como segmento/grupo/faixa etária isolada de outros de uma mesma sociedade.
A juventude em seu tempo e nas suas condições concretas colabora historicamente nos processos de transformação social – são sujeitos coletivos. E para serem sujeitos tiveram que optar entre a conformação da situação social e a irrupção do processo, basta lembrarmos p.ex. da participação da juventude no séc. XX de revoluções como o Outubro Vermelho (Rev. Russa de 17), o Maio de 68 na França e os/as jovens da Revolução Cubana.
Esses exemplos corroboram para o entendimento da juventude como fruto de seu tempo e presença significativa na produção da ontologia social. Cabe-nos a tarefa histórica de ajudá-la em suas provocações para inquirir do próprio mundo adulto suas certezas e crenças.

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