quarta-feira, 22 de junho de 2011

Crise não é só econômica, mas de humanidade
J. B. Libanio
Padre jesuíta, escritor e teólogo. 
A Assembleia Geral da ONU adotou a modalidade da Conferência dos Chefes de Estado das 192 nações que a compõem para discutir assuntos de suma gravidade. Na próxima, em inícios de junho, ocupará o centro das preocupações a crise econômicamundial. Desencadeada pelos países ricos do Norte, tem produzido verdadeira devastação em países pobres. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) fala em mais de 50 milhões de desempregados em menos de um ano.
No início parecia uma marola. Agora levanta a cabeça tsunâmica. Já não se encontram soluções a partir unicamente dos interesses dos G-8 ou mesmo dos G-20. Toda a humanidade se vê envolvida.
A crise financeira mostrou a ponta do iceberg das crises de energia, de produção de alimentos, do aquecimento global, do desequilíbrio do consumo, da injusta distribuição de rendas e do acesso desigual aos bens.
No entanto, a maior delas, embora menos citada e menos palpável no bolso, acontece no nível de humanidade. Em que consiste tal crise e que sinais a denunciam? A humanidade nesse mais de milhão de anos, depois que descemos da árvore, ao deixar para trás a noite escura da pura animalidade pela luz da razão, tem mostrado avanço na descoberta das exigências da nossa condição humana. Não se percorreu uma trajetória retilínea em direção ao sonhado ponto ômega de Teilhard. Mas, grosso modo, avançamos em humanidade apesar de escuros momentos de barbárie em todas as idades. Mesmo no século XX, que despontava com enormes promessas ao ver o ser humano andando pelas entranhas da terra em Paris, conhecemos duas guerras mundiais, campos de concentração, gulags, indústria armamentista assassina.
A arte, a educação, milhares de manifestações de convivência humana semeiam de esperança a caminhada da humanidade. O socialismo tentou um sistema justo de distribuição de bens materiais, mas esqueceu o homem novo que se constrói na liberdade e na compreensão. Agora coube ao neoliberalismo mostrar sua extrema desumanidade. E ela está no centro da crise.
No Ocidente, habituamo-nos a creditar os erros à ignorância. A deusa Razão, que se impusera na modernidade, anunciava-se capaz de corrigir os erros, abrir as inteligências e gerar sociedadejusta e fraterna.
Esquecemo-nos, porém, de que o ser humano se move não só pela razão, mas por motivações às vezes monstruosas. Haja vista a atual crise de humanidade, visibilizada pelo aumento da violência das guerras externas e internas. E soma-se a elas a praga da droga a circular triunfante por todo o mundo, arrastando bilhões de dólares e jogando na escuridão do vício a flor da juventude.
Será que a reunião dos 192 chefes de Estado ultrapassará os horizontes fechados da crise financeira para perceber que está em jogo novo paradigma de existência para toda a humanidade?

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