domingo, 18 de setembro de 2011

Fome devasta a Somália em um mundo menos disposto a intervir

Situação do país remonta aos anos 1990, porém sem as missões de bilhões de dólares e soldados que ajudaram os famintos na época

The New York Times
Será que o mundo está prestes a assistir 750 mil somalis morrerem de fome? Os avisos da ONU não poderiam ser mais claros. A fome gerada pela seca está devastando a Somália e matando dezenas de milhares. O grupo militante islâmico Al-Shabab está impedindo a maioria das agências de ajuda humanitária a acessar as áreas que controla e três quartos de um milhão de moradores vão ficar sem comida no próximos meses, segundo oficiais da ONU.

Foto: AP
Mães do sul da Somália seguram seus filhos em um centro médico localizado em Mogadíscio
Logo, as chuvas vão começar a cair, mas antes que qualquer plantação cresça, a doença irá florescer. Malária, cólera, febre tifóide e sarampo vão desolar populações imunossuprimidas, afirmam as agências de ajuda humanitária, matando milhares pela desnutrição.
Há uma espécie de déjà vu sobre tudo isso. No início dos anos 1990, a Somália foi atingida pela fome e, da mesma forma cruel, bandidos bloquearam a ajuda internacional, o que produziu imagens terríveis de crianças esqueléticas morrendo na areia. Na verdade, a fome daquela época atingiu a mesma região da Somália, o terço inferior da sua área, onde vivem os clãs de minorias impotentes que muitas vezes carregam o peso dos problemas crônicos desse país.
Mas na década de 1990, o mundo estava mais disposto a intervir. As Nações Unidas se reuniram atrás de mais de 25 mil soldados americanos, que embarcaram em uma missão de bilhões de dólares para combater os pistoleiros a tempo de conseguir colocar comida na boca dos famintos.
Compare isso com o que aconteceu na semana passada. Em uma reunião de cúpula sobre a fome em Nairobi, no Quênia, o primeiro-ministro da Etiópia, Meles Zenawi, propôs estabelecer corredores humanitários à força de modo que a ajuda alimentar possa ser entregue nas áreas controladas pelo Al-Shabab. Poucos doadores ocidentais se entusiasmaram com a ideia.

"Não há clima para intervenção", disse um oficial americano, que não estava autorizado a falar publicamente sobre o assunto. "As pessoas se lembram do que aconteceu na década de 1990. A conclusão é que isso ‘não funciona’."
A força militar estrangeira, segundo os analistas, nunca conseguiu resolver os problemas da Somália e não vai resolvê-los agora. Essa fome não se trata apenas do Al-Shabab impedir a chegada de alimentos. Trata-se de um Estado quebrado e da detruição humana que está causando.
Veja Mogadíscio, a capital. O Al-Shabab foi quase totalmente expulso da cidade em agosto, deixando o governo de transição da Somália no controle de grandes áreas da cidade, incluindo o campo de refugiados. Mas o "controle" do governo – esse termo mais parece uma aspiração significativa – não se traduz em uma operação de ajuda. Em vez disso, soldados do governo saquearam caminhões de ajuda e atiraram contra quem estava morrendo de fome.
Os políticos da Somália estão muitas vezes ocupados demais brigando para construir instituições como um Ministério da Saúde que funcione ou um departamento de saneamento que iria ajudar as vítimas da seca. Alguns dos grupos informais de pessoas acampadas para ajuda estão se desmantelando e não está claro para aonde os deslocados estão caminhando. Muitas agências de ajuda – e militares ocidentais – temem esse ambiente jutificadamente, e, até agora, a resposta para a fome tem sido bem aquém do que o necessário para conter a crise.

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