quarta-feira, 27 de junho de 2012

 

Diante do julgamento inevitável, Demóstenes oferece a renúncia em troca da absolvição


 

Prestes a enfrentar o Plenário do Senado, que poderá cassar seu mandato, o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) tentou, nesta terça-feira, uma última cartada para assegurar seus direitos políticos e, assim, ter a chance de se candidatar nas próximas eleições. Desde a noite passada, quando a Comissão de Ética definiu, por unânimes 15 votos a zero, o destino do aliado ao bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, ele e emissários contactados têm disparado uma série de telefonemas para os principais articuladores da Casa, entre eles o presidente da Senado, José Sarney (PMDB-AP); o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), e o ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG), para oferecer sua renúncia, caso seja absolvido.
Demóstenes preferiu não assistir, pessoalmente, à sua derrocada no plenário do Conselho de Ética, noite passada, quando o senador Humberto Costa (PT-PE), em seu relatório de 79 páginas, pediu a cassação de seu mandato por quebra de decoro parlamentar. Costa disse que há provas “robustas” e manifestas” do envolvimento de Demóstenes com Cachoeira. Nos bastidores, Demóstenes tenta que a fórmula funcione junto aos seus interlocutores: ele tiraria licença do cargo por 120 dias – o que pode ser feito sem que o suplente venha a assumir o posto – e depois renunciaria ao mandato, desde que os senadores que têm lideranças sobre os colegas não trabalhassem pela cassação. Demóstenes, assim, garantiria a cada um deles que não tem mais condição de permanecer no Senado, desde que absolvido no Plenário, onde a votação é secreta. Desta forma, seus direitos políticos estariam assegurados e ele poderia renunciar.
Demóstenes levou aos senadores procurados uma sensação de arrependimento, de que fora enganado pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, durante os últimos anos. Pensava, assim, convencer seus pares de que mereceria o perdão, com a garantia da renúncia ao mandato – a perda dos direitos políticos somente ocorre após a cassação ou o acusado renuncia quando o processo já está aberto. Demóstenes já esperava a decisão negativa do Conselho de Ética, a ponto de sua defesa, realizada por Antônio Carlos de Almeida Prado, o advogado conhecido como Kakay, indicar que ele preferia ser julgado no Plenário do Senado.
Foi mal
A negociação, porém, parece não ter funcionado. Aécio Neves, segundo assessores, teria respondido negativamente a Demóstenes. O senador mineiro se sentiria traído pelo colega goiano. Demóstenes pediu a Aécio, em maio do ano passado, que indicasse Mônica Beatriz Silva Vieira, prima do contraventor, para o cargo de diretora regional da Secretaria de Assistência Social em Uberaba. Aécio atendeu ao pedido, Mônica foi nomeada, o caso explodiu na mídia e deixou o possível candidato à Presidência da República pela legenda tucana em maus lençóis.
Demóstenes teria ido a São Paulo, segundo relato de senadores, para falar com José Sarney, durante o período em que o representante maranhense esteve internado no Hospital Sírio-Libanês. Sarney, porém, não o recebeu. Demóstenes teria feito a viagem de Brasília a São Paulo de carro, por ter receio de passar pelo constrangimento de tomar um avião e ser reconhecido pelos passageiros.
Demóstenes, de acordo com familiares, está vivendo um período de depressão. Toma muitos remédios, tem dificuldades para dormir e costuma entoar versos da canção “Tudo passará”, do cantor Nelson Ned.
O advogado Kakay nega as informações que circulam no Senado, de que seu cliente ofereceu a renúncia em troca dos direitos políticos.
– Isso nunca ocorreu. Seria contraditório, porque a luta do senador é para assegurar a manutenção de seu mandato no julgamento pelo plenário do Senado – afirmou.
Correio do Brasil

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