.Ponto de vista da jornalista Rosana Jatobá no g1, veja reportagem na íntegra;
Dá licença?
Em pouco tempo vou saciar a curiosidade que me acompanha há meses. A aparência dos filhos que ainda habitam meu ventre nestas 37 semanas de gravidez, já foi revelada por meio de sonhos que tive. Ela parece com a mãe e ele, a cara do pai. Os exames de ultrassom em 4D reforçam a minha percepção. Mas os palpites dos mais chegados, expostos com veemência, dizem o contrário.
Especulações de todo tipo são inevitáveis quando a barriga vira território de domínio público.
-Quando você vai dar a luz? Perguntou um jornalista, colega de redação.
-Espero os gêmeos para o começo de janeiro, respondi .
- Mas você não vai ficar tanto tempo fora do ar, não é? Ou vai se aproveitar desta nova licença-maternidade? Me desculpe, mas acho um absurdo uma profissional ficar 6 meses sem trabalhar. Isso provoca um desequilíbrio de forças na empresa. Muitas mulheres emendam as férias, folgas, outros tipos de licença e desaparecem por quase 1 ano. E essa proposta de ampliar a licença-paternidade para 15 dias? Um nonsense total. Os pais ficam em casa assistindo “Sessão da tarde”, ou bebendo com as visitas.
Antes de contra-argumentar, preferi entender o tal “desequilíbrio de forças” suscitado pelo colega.
Com base nos interesses corporativistas, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) entende que a ampliação da licença de quatro para seis meses, acarretaria novos custos às empresas, devido à substituição da funcionária. Defende também que o benefício deixaria as próprias mulheres inseguras com relação à sua inserção no mercado de trabalho. Empresários dizem que pode haver restrição quanto à contratação de mulheres que estão no início de carreira, recém- casadas, ou que ainda não tem filhos.
A legislação avança no caminho oposto.
A licença-maternidade de 180 dias já é obrigatória no funcionalismo público e facultativa em parte da iniciativa privada. Empresas de grande porte que aderiram ao projeto “Empresa Cidadã” podem oferecer o benefício às suas empregadas, e, em contrapartida, tem direito a incentivos fiscais do governo federal. Os quatro primeiros meses da licença são pagos pela empresa e compensados pelo INSS. Os outros dois meses são abatidos do Imposto de Renda.
Por enquanto, o Brasil tem 150 mil grandes empresas que podem aderir ao Programa. Mas a tendência é que o benefício se torne obrigatório para todo o setor privado. O Senado aprovou, por unanimidade, a Proposta de Emenda Constitucional neste sentido. A PEC será submetida a um segundo turno de votação no Senado, e, em seguida, encaminhada à Câmara.
Do ponto de vista da saúde pública, a amamentação regular e exclusiva (sem introdução de água, chás e quaisquer outros alimentos) durante os seis primeiros meses de vida reforça a imunidade do bebê e reduz o risco de ele contrair pneumonia, desenvolver anemia e sofrer crises de diarréia. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, o país gasta cerca de R$ 300 milhões por ano para atender a crianças com doenças que poderiam ser evitadas caso fossem beneficiadas com o aleitamento regular durante este período.
Outra vantagem da licença-maternidade de seis meses seria o possível retorno de mulheres mais produtivas ao desempenho de suas funções e a diminuição das faltas e atrasos.
O que pouco se discute é a importância da licença-maternidade de seis meses como forma de se resgatar uma das experiências humanas mais primitivas e animais.
Como defende o pediatra Carlos Eduardo de Carvalho Corrêa, “facilitar a aproximação incondicional das mães com seus bebês é preservar o vinculo mais importante e prematuro da humanidade. Não permitir, nem considerar natural o afastamento entre eles é lutar por uma ordem social que respeita as nossas necessidades de seres humanos.”
Este aninhamento necessário pode até esbarrar na lógica de mercado, mas se revela determinante para a formação de uma sociedade mais pacífica, igualitária e coesa.
Tão bom quanto matar a curiosidade de ver o que gestei, será enxergar, em breve, uma Nação mais consciente dos cuidados com as próximas gerações
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